Safra 2012/2013 de laranja indefinida (Publicado em 21/06/12)
Safra 2012/2013 de laranja:
Caminhamos para um ano sem novos contratos
Até agora estamos sem uma definição sobre o que irá ocorrer com preços ao produtor. Enquanto isto indústrias fecham, demitem, evitam acordos. As negociações em Brasília andam devagar e aumentam a tensão no campo.
Aos poucos o cenário vai se definindo, concretizando o que foi dito neste site no texto Desabafo. A crise vai se aprofundando e dando contornos cada vez mais nítidos das intenções das indústrias em relação aos produtores e a citricultura em si.
Vamos aos fatos: a última reunião ocorrida no dia 18 de junho acabou por não trazer novidades em relação às reuniões e anunciados dos dias 6 de junho. Ainda caminha-se para uma “extração com uma passada apenas” da laranja nas extratoras e um excedente ao redor de 30 a 40 milhões de caixas para alguém resolver como puder. Outra medida que está sendo estudada é ampliar a LEC (Linha Especial de Crédito), medida que visa aumentar a proporção de suco retida pelo governo através de empréstimo às indústrias. O restante estão “estudando medidas” junto a CONAB para o escoamento do restante da safra. Estas reuniões ocorrerão nos próximos dias 25 e 26 de junho (segunda e terça-feira da semana que vem). Já até surgiu uma piada dizendo que funileiro vai ter muito trabalho para fazer fundo falso nos tanques, a exemplo do que já ocorreu no passado mediante tentativas do governo em manter estoques em outras culturas no passado. Com relação a esta questão, o principal problema é o que vai ser feito deste excedente de estoque e pior: como o mercado vai interpretar esta questão. As cotações não param de cair nas bolsas.
Fain Shaffer, presidente da Infinity Trading afirmou que os preços do suco comercializados na Bolsa de Nova York sofreram um duplo golpe, por uma demanda fraca e oferta bastante elevada. Ocorreu uma queda de 10% no volume total de negociações na bolsa em relação à média anual.
Mantidas estas questões será difícil fixar novamente para esta safra o preço que está sendo ao redor dos mesmos R$ 10,00 pagos na safra anterior. Vamos ter que esperar para ver onde vai parar.
- Movimentação na indústria:
Segundo o Jornal Tribuna de Taquaritinga, a Cutrale vai fechar a Branco Perez, antiga Royal Citrus, alegando “queda baseada na situação atual do mercado citrícola com previsão de nova safra elevada de laranja e níveis altos de estoques de suco, decorrentes da safra recorde do ano passado, e da retração do consumo mundial de suco de laranja”. Por outro lado cita esta mesma fonte que as unidades de Araraquara, Uchoa, Colina e Conchal estarão contratando para trabalhar em turnos de revezamento, estimando uma ampliação de 20% da quantidade de funcionários contratados em relação à safra anterior. Neste mesmo sentido, a unidade de Itápolis irá interromper suas operações neste ano. Parte dos operários que estão sendo transferidos para outras unidade de produção a fim de reduzir ao máximo as demissões. Segundo Renato Queiróz, presidente do conselho da Associtrus, a fusão entre Citrosuco e Citrovita em 2011 foi um fator determinante para o fechamento das operações destas empresas.
Em ano que se pretende moer pouca laranja, é necessário fechar unidades. Para moer 100 ou 1.000 caixas, o custo operacional na indústria é exatamente o mesmo. Desta forma é necessário interromper operações em unidades menores para que o suco não fique “mais caro” em função da grande capacidade ociosa. O movimento em si gera muita preocupação. Dá indícios claros de que a moagem será mesmo reduzida de forma significativa. Passa-se a impressão que estão apenas ganhando tempo nas negociações em Brasília para acabar não cumprindo com a promessa de colheita e preço. Eles têm somente que esperar a fruta começar a cair. E a natureza se encarregará do resto.
- Radio peão:
Enquanto os preços a serem praticados permanecem indefinidos, o produtor se vira como pode. Aos poucos o mercado vai escoando a laranja que está nos pomares a preços que variam de R$ 4,50 a R$ 6,50 no pé e alguns estão fornecendo à R$ 6,00 para indústrias menores, sendo R$ 3,50 após a entrega da laranja e o restante em 30 dias.
O problema é que além do preço baixo, a Selial está colocando como “descarte” entre 10% a 25% da fruta entregue. Um desconto extremamente abusivo considerando-se que a fruta ainda está em boas condições no campo e longe de já apresentar problemas técnicos graves. A fruta ainda não está caindo na maior parte dos pomares, o que significa que não existe grande proporção de frutos “colhidos do chão”.
- Novamente o Carbendazim:
O FDA concluiu os testes para Carbendazim de cargas de suco de laranja provenientes do Brasil no dia 26 de Abril. Patricia El-Hinnawy, agente de relações públicas da FDA afirmou que as “violações” caíram muito durante o período dos testes, ficando mais de um mês em níveis baixo, justificando desta forma a interrupção dos testes para a presença do Carbendazim. Para que se tenha uma ideia do tamanho do impacto destas medidas com relação a contaminação do suco, ocorreu uma queda de 23% no total de importações de suco pelos Estados Unidos entre Janeiro a Abril em comparação a igual período de 2011. O principal fornecedor de suco passou a ser neste período o México, com um aumento de 55% no total exportado em relação ao ano passado. Já os embarques do Brasil tiveram uma queda de 66% neste período com a mesma base de comparação.
- Pomares de laranja são arrancados mesmo antes da colheita:
A somatória das atividades predatórias das indústrias e a falta de perspectivas a curto prazo para esta crise está fazendo com que pomares sejam erradicados e podados mesmo com a safra inteira na planta a ser colhida. Está ocorrendo novamente uma migração em grandes proporções para a Cana, traçando um caminho sem volta. É bom salientar que, segundo já publicado recentemente neste site, o setor da Cana-De-Açúcar também enfrenta uma crise de grandes proporções, só que pelo motivo exatamente inverso ao que vive atualmente a laranja: está faltando cana para moer nas indústrias.
O problema é que 35% das usinas estão em dificuldades, sendo que 17% estão à beira da falência. O produtor deverá tomar um cuidado redobrado para que não caia em uma nova armadilha, ficando sem receber agora das usinas de açúcar e álcool.