A citricultura brasileira é sustentável?

Enquanto as discussões sobre o futuro da citricultura nos Estados unidos se pautam pela excessiva preocupação em relação ao “Greening”, aqui no Brasil temos nossa atenção voltada quase exclusivamente para a gestão de contratos de venda.

Infelizmente não é difícil de entender o que ocorre. Sem preços que justifiquem um risco cada vez maior da perda do investimento, como garantir o controle com eficiência de qualquer que seja a doença? Simplesmente impossível. Pode-se considerar esta questão como uma bola de neve descendo morro abaixo, ou como um sulco de erosão que começa sempre pequeno e vai aumentando nas partes mais baixas do terreno, para citar um exemplo mais brasileiro: quanto menor o preço pago aos produtores, menores serão os investimentos para controle e convivência com o “Greening”. Sem estes investimentos tende-se a aumentar a fonte de inóculo (bactérias) no parque citrícola, aumentando desta forma o risco do investimento em produção de laranjas.

Esta questão do risco não é nova e muito menos um problema exclusivo da laranja. No mundo dos economistas, onde tudo pode e deve ser expresso em números, até sentimentos, já foram criadas muitas formas para quantificar estes fatores que afetam o custo, mas não tem como ser medidos. Basta lembrar um dos índices mais badalados pelos governos mundo afora: o Risco País. Este número expressa exatamente qual são as chances de um investimento em títulos daquele país ser cumpridos a risca, por exemplo. Todo governo no mundo emitem papeis que são vendidos no mercado com uma promessa de pagamento de uma taxa passados alguns anos. Por exemplo: o governo brasileiro emite um contrato que vale R$ 100,00 e diz que irá devolver ao comprador R$ 112,00 um ano após a aquisição deste papel. Estes papéis nada mais são do que um empréstimo que o governo faz para custear o seu funcionamento.

É óbvio que se o governo deste país não for responsável com o dinheiro que está arrecadando, não sobrará nada para pagar os títulos que vendeu mundo afora. E é exatamente o que mede o Risco País: a chance de este país cumprir os contratos. Quanto menor este índice, maiores serão as chances de receber o dinheiro investido com os acréscimos descritos em contrato. Outra conseqüência curiosa é o que acontece com estes papéis nas bolsas: eles são vendidos por um preço menor do que aquele que registra. Ou seja: um papel no qual o governo fala que vale R$ 100,00 é vendido na bolsa por R$ 97,00. O título assume um valor no mercado menor que o valor de face! E esta desvalorização acontece justamente quando os economistas avaliam o índice referente ao Risco País. A situação pode também ser inversa caso o país em questão seja bem avaliado no mercado.

Mas, onde exatamente entra toda esta história no mundo da laranja? Entra na discussão entre indústrias de suco e produtores sobre qual é o custo de produção. Da mesma forma que os títulos dos governos têm que pagar mais ao investidor quando o Risco País está alto para que alguém tenha interesse em arriscar seu dinheiro, as indústrias terão que necessariamente pagar mais pela laranja para que o produtor tenha como compensar as perdas que podem ocorrer pela incidência de doenças. A diferença é que não temos um Risco Laranja para colocar na mesa ao discutir preços dos contratos, imperando um senso comum sobre o custo e quanto se deve ganhar para “compensar” o trabalho e o risco.

De certa maneira, quando colocamos o suco na bolsa de mercadorias, os próprios agentes do mercado irão refletir qual pode ser este risco com a valorização do suco. Se o suco sobe, isto refletirá entre outras coisas que o risco de desabastecimento aumentou. Quando esta percepção dos agentes do mercado consegue chegar ao bolso dos produtores, ocorre um aumento ou redução dos investimentos no campo que refletirão em um aumento ou redução da quantidade de suco no mercado. A longo prazo o que ocorre é a estabilidade em toda a cadeia: todos ganham.

Fica aí uma sugestão: porque não pagar pela laranja posta o preço do fechamento na bolsa no dia da entrega? Seria exatamente o que ocorre com o Café. O preço pago é aquele obtido em bolsa menos alguns fatores relacionados à qualidade do café e a pureza. Para laranja poderia ser pago por sólidos solúveis da mesma forma que nos Estados Unidos, que é o equivalente à pureza e qualidade da bebida levada em consideração para o café. O preço a ser pago por sólidos solúveis estaria atrelado às cotações do suco em bolsa.

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